Uma calamidade anunciada

Rio escolheu viver da renda do petróleo e desconsiderou oportunidades de crescimento em outros setores

Por Suzana Kahn | ArtigoODS 7 | [tempo_leitura]
• Publicada em 21 de junho de 2016 - 08:00   • Atualizada em 24 de junho de 2017 - 14:21

Plataforma de petróleo no Rio de Janeiro. Foto Frédéric Soreau/Photonostp
Plataforma de petróleo no Rio de Janeiro
Plataforma de petróleo na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro

O mundo chegou a um estágio de conhecimento em que a fase de dúvidas sobre a necessidade de redução de emissão de carbono já foi ultrapassada. Isto é muito positivo, pois a incerteza leva à inércia, e a inação leva a um aumento da conta a ser paga em um futuro próximo. Assim, o debate agora se dá em outro patamar, onde se discute a forma de se ajustar à esta nova trajetória e de que maneira é possível se beneficiar deste novo modelo de desenvolvimento. Só que nesta reorganização de valores, um novo equilíbrio se estabelece, onde algumas atividades, tecnologias e fontes de energia passam a ter maior relevância no cenário econômico enquanto outras iniciam sua retirada de cena.

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O estado tem uma das maiores concentrações de universidades e centros de pesquisa do Brasil, tendo potencial de protagonizar a chamada economia do conhecimento, com enorme valor agregado e”zero” emissão de carbono associada.

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O exemplo mais evidente é o das fontes renováveis de energia. Os dados de seu crescimento impressionam. Em apenas uma década, a potência instalada de energia solar fotovoltaica, no mundo, cresceu 50 vezes, e a de energia eólica mais de 10 vezes. São cerca de 7,7 milhões de empregos diretos no setor de energia renovável. No setor de transporte, também se espera uma grande mudança rumo à eletrificação em substituição aos motores à combustão. Possivelmente em 2020, o custo de produção de um veículo elétrico será compatível com os veículos tradicionais. A evolução da tecnologia digital é de uma enorme rapidez , com novos produtos, plataformas, serviços entrando de maneira acelerada no cotidiano das pessoas. Internet das coisas, redes inteligentes, sensoriamento remoto, “Big Data”, armazenamento de energia e renováveis são exemplos da nova economia. Plataformas de compartilhamento, empreendedorismo são também exemplos de novos modelos de negócios e oportunidades. E é frente a este cenário atual que o Rio de Janeiro manteve seu foco na exploração de petróleo como setor chave de sua economia.

Apesar de dispor de todos os sinais de que o mundo trilharia por um caminho de baixo carbono, o Rio de Janeiro apostou em “viver da renda” do petróleo, desconsiderando oportunidades de crescimento em setores que teria condição de liderar. O estado tem uma das maiores concentrações de universidades e centros de pesquisa do Brasil, tendo potencial de protagonizar a chamada economia do conhecimento, com enorme valor agregado e”zero” emissão de carbono associada. Para tanto é importante que se tenha um arcabouço institucional com instrumentos econômicos e regulatórios que promova um ambiente propício para atrair e abrigar aqueles que têm capacidade para empreender, inovar, criar e assim contribuir para o nosso crescimento e desenvolvimento.

Se o estado de calamidade for superado, o Rio de Janeiro deveria se alinhar o mais rapidamente possível à tendência mundial do desenvolvimento de baixo carbono e reorientar sua economia focando em áreas estratégicas para o século XXI. Importante ressaltar que um desenvolvimento de baixo carbono não se limita a oferta de energia renovável. O uso eficiente da energia que se dispõe, empregando redes e dispositivos inteligentes, é essencial para esta nova economia. Da mesma forma, o uso compartilhado de bens e serviços diminuindo a demanda por recursos naturais, pode contribuir muito com a diminuição das emissões de carbono. O Rio de Janeiro enfrenta uma contradição pois a manutenção de nosso modelo de crescimento é o que nos impede de crescer.

A boa notícia é que a indústria do petróleo no Rio de Janeiro formou inúmeras competências em diferentes áreas do conhecimento que serão fundamentais em qualquer modelo de desenvolvimento.

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Suzana Kahn

Engenheira mecânica com doutorado em engenharia de produção. Professora da COPPE/UFRJ, presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudança Climática e coordenadora do Fundo Verde da UFRJ.

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Um comentário em “Uma calamidade anunciada

  1. Hylton Sarcinelli Luz disse:

    Parabéns Suzana Kahn, seu artigo é muito apropriado ao momento, tanto pelo que reflete sobre os equívocos que a miopia ambiental propicia, quanto pelo que sugere como oportunidades ainda vigentes, potenciais que podem viabilizar uma correção de rumos.

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