Diário da Covid-19: Brasil e China em polos opostos entre os países do BRICS

Chineses reativam a economia enquanto brasileiros veem o número de casos ultrapassar a casa de um milhão

Por José Eustáquio Diniz Alves | ODS 3 • Publicada em 19 de junho de 2020 - 10:43 • Atualizada em 22 de junho de 2020 - 09:19

Passageiros usando máscara viajam na hora do rush no metrô de Pequim. Foto Noel Celis/AFP

O Brasil é o país mais afetado pela pandemia do novo coronavírus e, por incrível que pareça, a China, que foi o epicentro original da covid-19, atualmente, é o país menos afetado entre aqueles que fazem parte do grupo do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). No dia 18 de junho a África do Sul ultrapassou a China em número de casos.

A diferença é marcante. O Brasil, com 2,7% da população mundial já responde por 11,4% dos casos e por 10,5% das mortes pelo novo coronavírus. A China, com 18,5% da população mundial responde por 1% dos casos e das mortes globais e possui um coeficiente de incidência de 58 casos por milhão de habitantes e um coeficiente de mortalidade de 3 mortes por milhão, bem abaixo do demais países do BRICS e da média mundial.

Já o Brasil, que se aproxima de 1 milhão de casos e de 50 mil mortes, apresentou, no dia 18/06, um coeficiente de incidência de 4.602 casos por milhão de habitantes e um coeficiente de mortalidade de 225 óbitos por milhão. Em seguida vem a Rússia com coeficientes de 3.845 e 52, respectivamente. A Índia, que no dia 17/06, incluiu cerca de 2 mil óbitos anteriores cujas causas de mortes estavam sendo analisadas, atingiu um coeficiente de incidência de 276 casos por milhão e 9 óbitos por milhão de habitantes.  Os coeficientes da África do Sul são de 1.415 casos e 29 óbitos por milhão.

A Rússia lidera no número de testes e tem a menor letalidade. A Índia tem a menor proporção de testes, seguida do Brasil e da África do Sul. Não estão disponíveis os dados sobre os testes na China.

O termo BRIC (soa como tijolo em inglês) foi inventado, em 2001, pelo economista Jim O’ Neill, do banco de investimento Goldman Sachs, com o objetivo de orientar as empresas e os investidores mundiais como ganhar dinheiro com os grandes países “emergentes” do mundo: Brasil, Rússia, Índia, China. Estes quatro países estão entre aqueles da comunidade internacional com maior território ou maior população.

O termo fez grande sucesso, especialmente no período do ciclo das commodities, que possibilitou um crescimento da economia dos países “emergentes” em relação aos países “avançados”. Mas no acrônimo original não havia nenhum país da África, o que era politicamente incorreto. Então foi incluída a África do Sul (South África) e o termo BRIC ganhou uma letra a mais, se transformando em BRICS (que seriam os “tijolos” da nova economia global).

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Em Nova Délhi, um profissional de saúde colhe material para o teste da covid-19. Foto Xavier Galiana/AFP
Em Nova Délhi, um profissional de saúde colhe material para o teste da covid-19. Foto Xavier Galiana/AFP

A ironia é que o termo BRICS, criado pelo setor financeiro internacional, virou uma sigla política que se transformou em um grupo político de países heterogêneos que se reúnem periodicamente. Para alguns analistas, o grupo seria uma versão atualizada dos países líderes do Terceiro Mundo.

Mas o grupo tem suas divergências e suas dificuldades de relacionamento. O governo atual do Brasil tem uma divergência ideológica muito grande com a China e com a Rússia. Na última segunda-feira (15/06), diversos soldados indianos foram feridos ou mortos em confrontos com a força chinesa no Vale de Galwan, na região do Himalaia, no confronto fronteiriço mais grave na região desde 1975. A continuidade do grupo BRICS não está garantida diante das heterogeneidades entre os países.

O gráfico abaixo mostra que o Brasil estava atrás da China e da Rússia em número de casos até final do mês de abril. Mas assumiu a liderança no final de maio e já acumula quase o dobro dos casos da Rússia e mais de 10 vezes o número de casos da China e da África do Sul.

O gráfico abaixo mostra o número acumulado de mortes entre os países do BRICS. O Brasil também assumiu o primeiro lugar entre os países do grupo em final de abril e já possui um número de mortes 10 vezes maior do que os óbitos da China. A Rússia que está em segundo lugar no número de casos, fica em terceiro lugar em número acumulado de mortes, pois possui uma taxa de letalidade mais baixa.

A Índia é junto com Brasil, EUA e México o país que apresenta atualmente os maiores números de casos e de mortes diárias. A situação do país preocupa, pois as taxas de crescimento do surto pandêmico estão muito elevadas. A África do Sul já se tornou o país africano mais impactado pela covid-19.

Os 5 países do BRICS possuem 42% da população mundial, estão localizados nos continentes mais populosos do mundo e são atores importantes do cenário internacional, apesar de toda a heterogeneidade interna. Provavelmente, a pandemia do novo coronavírus vai acirrar as desigualdades internas, pois, a China é o país menos afetado pelo SARS-CoV-2 e já é o primeiro a reativar a maior parte das atividades econômicas.

A 11ª Cúpula do Brics, ocorreu em novembro do ano passado em Brasília. A 12ª Cúpula estava prevista para a cidade de São Petersburgo, na Rússia em 2020. Mas tudo ficou incerto com o avanço da pandemia. A própria continuidade do grupo, tal como se encontra hoje, está sob questionamento. De fato, tudo é incerto atualmente e ninguém sabe com certeza como será o mundo pós-covid-19.

Frase do dia 19 de junho de 2020

“Não importa o tamanho da Montanha, ela nunca poderá tapar o sol”

Provérbio Chinês

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José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

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