Floresta em chamas na Amazônia

Temporada de queimada já é considerada a pior e a maior da história

Por Liana Melo | FlorestasODS 14 • Publicada em 15 de setembro de 2016 - 08:00 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 15:53

Queimada. Foto de Rogério Assis/Greenpeace
Queimada se estende por fazendas e florestas em Cujubim, em Rondônia (Foto de Rogério Assis/Greenpeace)

Todo ano é igual. Basta agosto começar para a temporada de queimadas na Amazônia se repetir no período da estiagem como se fosse uma característica natural da região. Só que não. Os focos de incêndio são criminosos e feitos exclusivamente para promover o desmatamento, limpar o pasto ou  renovar a área agrícola. Este ano, o fogo vem se alastrando em alta velocidade e se espalhando para as regiões Centro-Oeste e Sudeste do país, como mostra essa imagem da NASA.

Os focos de queimada já são 81% maiores que a média histórica para o período – os dados vêm sendo coletados há 17 anos – e já somam 27.814 focos de fogo no Brasil. Imagens captadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apontam para a maior e a pior queimada da temporada desde 1999.

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Queimadas e mudanças climáticas operam em um ciclo vicioso, onde um problema contribui para o agravamento do outro. Quando se queima uma floresta, ela emite grandes quantidades dos gases de efeito estufa que geram o aquecimento global

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Apesar de o país ter ratificado o Acordo de Paris da ONU na última segunda-feira – o que significa que agora é lei -, na prática o ano de 2016 pode se transformar em recordista em queimadas e incêndios florestais – um problema que anda de mãos dadas com o desmatamento e o aquecimento global. “Queimadas e mudanças climáticas operam em um ciclo vicioso, onde um problema contribui para o agravamento do outro. Quando se queima uma floresta, ela emite grandes quantidades dos gases de efeito estufa que geram o aquecimento global”, analisa Cristiane Mazzetti, porta-voz da campanha Amazônia, do Greenpeace.

Os focos de incêndio vem se espalhando pelo Amazonas, Acre, Rondônia, Mato Grosso e Pará – estados que fazem parte da região conhecida como Arco do Desmatamento, onde ocorre a maior incidência de exploração ilegal de madeira e avanço de áreas de pastagens. Só no primeiro semestre, foi contabilizado no estado do Amazonas um aumento de 746% no número de focos em relação à média histórica.  O estado, que costumava ter enormes porções de floresta preservada, já é a nova fronteira para os desmatadores. Os ataques à floresta vem da vizinhança, especialmente do Mato Grosso e Pará.

Apesar de o país ter avançado no combate ao desmatamento no período que vai de 2004 a 2012, os dados oficiais do Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes) indicam um retrocesso na luta contra o deflorestamento. Nos últimos quatro anos, o Prodes registrou uma média 5 mil km² de floresta destruída todos os anos, o que equivale a 4 vezes a área da cidade do Rio de Janeiro.

Se continuarmos nessa trajetória, o país estará correndo o sério risco de superar este ano o recorde histórico de desmatamento, que foi de 6 mil km² em 2011.

Amazônia mais quente

Áreas de queimada foram detectadas em Rondônia, próximas à capital Porto Velho

Três dias depois de o governo assinar o Acordo de Paris,  um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostrou quais os municípios do estado do Amazonas mais vulneráveis à mudança do clima nos próximos 25 anos. Para algumas cidades, como Careio da Várzea e Parintins, além da região metropolitana de Manaus, estão sendo projetadas variações bruscas de temperatura e poluição especialmente em virtude do desmatamento. Se nada for feito para conter a derrubada da floresta, a capital do estado pode vir a registrar um aumento de 4ºC na temperatura.

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Estes fenômenos climáticos poderiam impactar a irrigação, a perda do potencial de pesca e a redução da produção agrícola, afetando diretamente a segurança alimentar das populações que vivem nessa região

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A pesquisa da Ficoruz, “Vulnerabilidade à Mudança do Clima“, foi feita em parceria com o Ministério do Meio Ambiente. Até o final do ano, as projeções de mudança climática serão feitas para outros 3 estados brasileiros: Mato Grosso do Sul, Maranhão e Paraná.

A região Nordeste do Amazonas poderá apresentar um aumento de 5°C graus na temperatura e, ao mesmo tempo, registrar uma redução de até 25% no volume de chuvas nos próximos 25 anos. Como a Floresta Amazônia funciona como uma espécie de bomba d´água, a redução das chuvas na região poderá alterar substancialmente o regime de chuva no país. Em algumas cidades, como Nhamundá, o aumento no número de dias seguidos sem chuva poderá chegar a 36%.

As mudanças do clima também podem provocar, segundo Júlia Menezes, uma das autoras do estudo, transformações em fenômenos naturais recorrentes na Floresta Amazônica, como o período das cheias dos rios. Por causa das alterações no volume de chuvas e elevação da temperatura, diz ela, podem ocorrer eventos extremos, como secas e inundações. E concluí: “Estes fenômenos climáticos poderiam impactar a irrigação, a perda do potencial de pesca e a redução da produção agrícola, afetando diretamente a segurança alimentar das populações que vivem nessa regime.”

O sinal verde para desmatar a Floresta Amazônica está acionado. Os estímulos são claros: o perdão da dívida dado a todos que desmataram ilegalmente a floresta até o ano de 2008 via o Novo Código Florestal, aprovado há quatro anos, e objetivo anunciado pelo governo brasileiro, durante a COP de Paris, de zerar o desmatamento ilegal até 2030. Pelos próximos 14 anos, desmatar está liberado.

 

 

 

 

 

 

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Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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