Populismo autoritário avança com desigualdade, injustiça e falta de confiança nas instituições

Fenômeno, antes considerado típico de países latino-americanos, vem ganhando força em todo o mundo ocidental

Por José Eduardo Mendonça | ODS 16 • Publicada em 28 de março de 2022 - 09:32 • Atualizada em 1 de dezembro de 2023 - 18:03

Bolsonaro e Trump em encontro na Casa Branca: exemplos do avanço do populismo autoritário nas democracias do mundo ocidental (Foto: Brendan Smialowsk / AFP /19/03/2019)

Por mais de uma década, especialistas vêm se perguntando como o populismo chegou para dominar a política no Ocidente. Os anos 2010 foram uma década marcada pela chegada ao poder de líderes de extrema direita, com Trump nos Estados Unidos e Bolsonaro no Brasil. Houve também muitos candidatos de partidos populistas de esquerda, como o Podemos Na Espanha, Jeremy Corbin no Reino Unidos, e Bernie Sanders nos EUA, assim como movimentos de protestos como os Coletes Amarelos na França. O populismo, um dia considerado como um fenômeno de países de países latino americanos atrasados, tornou-se uma característica familiar da política virtualmente em todos os países ocidentais.

Leu essa? Violência no Congresso dos EUA mostra o poder da desinformação

Analistas e observadores notam com frequência a existência do que chamam de uma “transversalidade” – populismo com um ingrediente que pode ser misturado a agendas populistas de ambos os lados, uma conexão entre agendas da extrema direita e de extrema esquerda.

Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.

Veja o que já enviamos

Economistas como o prêmio Nobel keynesiano Joseph Stiglitz e o celebrado Thomas Piketty argumentaram ser a desigualdade econômica que leva ao descontentamento popular. Estes autores denunciaram o fosso entre os ricos e os pobres nos Estados Unidos e Europa, e o modo como isto provoca rancor, com frequência direcionado contra imigrantes e minorias, em vez das elites econômicas.

Outros focaram em questões mais específicas – dos choques comerciais, como os produzidos pela entrada da China no mercado mundial, à automação e ao modo como ataca os trabalhos manuais, passando pelos efeitos da imigração e dos mercados externos.

Mas como exatamente a desigualdade leva ao descontentamento político – e este deve mesmo ser o foco?

Autores argumentam que, por exemplo, a crise financeira de 2008 despertou o ultraje por conta de ter claramente revelado a injustiça, com milionários e bancos salvos com dinheiro público.

O populismo é descrito como o espelho da democracia – e de seus fracassos. Eric Protzer, de Harvard, e seu colaborador Paul Sommerville usam a baixa confiança nas instituições políticas como um representante do sentimento popular. Cidadãos não se ligam a movimentos populistas ou líderes só por estarem preocupados com o efeito da desigualdade ou “injustiça” – fazem porque enxergam esta desigualdade como o resultado bruto de decisões politicas, tomadas por representantes contra os melhores interesses daqueles que representam.

Deveríamos nos perguntar como as sociedades ocidentais podem se tornar menos divididas, mais autoconfiantes e exemplares melhores de valores liberais democráticos. A ideia é confrontar populismo e nacionalismo e criar um território para alianças ocidentais construtivas, e respeitar o papel da lei.

Os protestos foram chamados de ações de minorias, mas são também um crescente movimento de queixas de direita que seriam um momento definidor para a política de direita.

Estes fenômenos nos mostram que os protagonistas do papel da democracia liberal dos anos 1990 acreditavam mesmo neles, vivendo como as pessoas nos próprios anos 1990 – mas hoje são quase uma espécie em extinção que temos de fazer um grande esforço para manter vivo.

É um fenômeno intrinsecamente perigoso em modernas democracias que, por muitas razões – a erosão da classe trabalhadora, a criação de muitas pessoas que se sentem sem classe e não são levadas a sério no mundo globalizado -, vem tornando a pressão autoritária presente de forma mais universal.

Mais Lidas

Nenhum dado até agora.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

Newsletter do #Colabora

A ansiedade climática e a busca por informação te fizeram chegar até aqui? Receba nossa newsletter e siga por dentro de tudo sobre sustentabilidade e direitos humanos. É de graça.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *