A pandemia não dá tréguas ao Brasil. O número de pessoas infectadas ultrapassou um milhão de pessoas e o número de vidas perdidas para o novo coronavírus superou 50 mil óbitos. Parecia que o pior tinha passado, pois na semana de 07 a 13 de junho o número de casos ficou aproximadamente estável e o número de mortes caiu em relação à semana anterior. Mas uma certa sensação de bonança no meio da tempestade, foi interrompida por uma nova borrasca na semana de 14 a 20 de junho, empurrando os números para o alto, com 217 mil casos e 7,3 mil mortes em 7 dias.
Para se ter uma ideia da dimensão destas cifras, basta dizer que os 217 mil casos brasileiros em 7 dias são maiores do que todos os casos durante a pandemia inteira no Irã (203 mil casos) ou na Alemanha (191 mil casos). As 7,3 mil mortes em 7 dias do Brasil são superiores às 4,6 mil mortes da China que ocorreram em quase 6 meses. Infelizmente, a pandemia ainda mostra muito gás no Brasil. E a situação internacional não é menos problemática.
O panorama nacional
O Ministério da Saúde informou, no sábado (20/06), que o país chegou a 1.067.579 casos e 49.976 vidas perdidas, com uma taxa de letalidade de 4,7%. Foram 34.666 novos casos e 1.022 novas mortes em 24 horas
Para avaliar o ritmo da expansão da pandemia no território nacional, o gráfico abaixo mostra a evolução do número de casos da covid-19 por semana epidemiológica (SE), começando pela 10ª SE (de 01 a 07 de março de 2020). No dia 01 de março o Brasil tinha apenas 2 casos confirmados de covid-19 e passou para 19 casos no dia 07/03. Foram apenas 17 casos, mas o aumento foi de 9,5 vezes (o que representa 37,9% ao dia). Até a 13ª SE (22 a 28/03) os números relativos ficaram acima de 30% ao dia. Porém, nas semanas seguintes os números absolutos foram crescendo ao mesmo tempo que a variação percentual foi diminuindo. No mês de março houve acréscimo de 5,7 mil casos, em abril foram 80 mil casos, em maio foram 429 mil casos e, somente nos primeiros 20 dias de junho foram 553 mil casos.
O gráfico abaixo mostra a variação média diária do número de casos no Brasil, nas diversas semanas epidemiológicas (SE). Nota-se que o número de pessoas infectadas passou de 397 casos na 13ª SE, para 2.267 pessoas na 16ª SE e mais do que decuplicou na 22ª SE. Porém, durante duas semanas (23ª e 24ª) houve quase estabilidade nos novos números de casos. Porém na 25ª SE (14 a 20/06) a variação absoluta deu um salto para 31 mil casos diários. Para contribuir com as avaliações, nossa projeção para a 26ª SE (de 21 a 27/06) indica 28,7 mil casos diários no Brasil, com aumento relativo de 2,5% ao dia.
Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.
Veja o que já enviamosO gráfico abaixo mostra a evolução do número de vidas perdidas nas sucessivas semanas epidemiológicas (SE). O primeiro óbito pela covid-19 no Brasil ocorreu no dia 17 de março e chegou a 18 óbitos no dia 21/03, o aumento foi de 18 casos em 5 dias, o que representou um crescimento diário de 78,3% na 12ª SE. Nas semanas seguintes, o número absoluto de óbitos foi subindo, mas o número relativo diminuiu e chea 2,3% ao dia na 25ª SE.
O gráfico abaixo mostra que o número de vítimas fatais foi de 13 óbitos ao dia na 13ª SE, passou para 46 óbitos na 14ª SE e se multiplicou por 20 vezes até a 21ª SE, com tristes 910 óbitos diários. Os números continuaram subindo até 1.014 óbitos na 23ª SE. Mas a boa notícia foi que houve uma queda na 24ª SE (de 07 a 13/06) para 970 óbitos por dia. Porém, na 25ª SE o número de mortes voltou a subir e bateu o recorde de 1.037 óbitos. Nossa projeção é que vai continuar subindo e deve alcançar 1.062 óbitos ao dia na 26ª SE (21 a 27/06).
O panorama global
O dia 20 de junho terminou com 8,9 milhões de casos e 466 mil óbitos no mundo, com uma taxa de letalidade de 5,2%. Houve um aumento de 1 milhão de casos em uma semana. Somente no dia 19/06 aconteceram 181 mil novos casos, recorde absoluto de todo o período. O gráfico abaixo mostra as variações absolutas e relativas, sendo que as percentagens estavam caindo rapidamente até a 20ª SE, mas diminuíram o ritmo e variaram apenas de 2,0% para 1,8% até a 25ª SE.
O gráfico abaixo mostra que o aumento absoluto do número de mortes foi muito grande passando de 3.050 óbitos no dia 01/03 para 466 mil no dia 20 de junho. Mas a variação relativa, que chegou ao máximo na 13ª SE (com 13,1% ao dia), diminuiu constantemente nas semanas seguintes até atingir 1% ao dia na 24ª SE. Contudo, na 25ª SE (de 14 a 20/06) houve uma reversão e a percentagem subiu pela primeira vez desde o final de março.
Todos os dados acima mostram que a pandemia recrudesceu na 25ª SE, tanto no Brasil quanto no mundo. O gráfico abaixo mostra que o Brasil estava acelerando em relação ao mundo até a semana de 17 a 23 de maio (21ª SE) e depois passou a desacelerar. O número de casos brasileiros chegou a subir 3 vezes mais rápido do que os casos mundiais, mas na 25ª SE (14-20/06) esta diferença caiu para 1,8 vezes. Ou seja, mesmo menor, o aumento atual do número de casos cresce a um ritmo 80% maior no Brasil do que no mundo.
Da mesma forma, o gráfico abaixo apresenta as taxas médias de crescimento diário relativo das vítimas fatais da covid-19 no Brasil e no mundo. Nota-se que no final de março e durante quase todo o mês de abril o ritmo brasileiro chegou abaixo de 1,5 vez o ritmo mundial. Mas no mês de maio, o ritmo internacional caiu mais rápido que o ritmo nacional e a diferença passou a ser de mais de 3 vezes. Contudo, no mês de junho houve desaceleração do ritmo brasileiro e a diferença caiu de 3,5 para 2,5 vezes entre a velocidade brasileira e global na 24ª SE. Na semana passada (25ª SE) houve aumento do ritmo das mortes no mundo e, assim, a diferença caiu para 2 vezes entre o ritmo brasileiro e mundial.
Os dados acima são preocupantes tanto para o Brasil, quanto para o mundo. É certo que as variações relativas estão caindo, mas no mundo com cerca de 9 milhões de pessoas infectadas, uma percentagem de 1,8% ao dia representa mais de 150 mil novos casos em 24 horas, e para cerca de 500 mil mortes registradas, uma percentagem de 1% ao dia representa 5 mil novos óbitos em 24 horas.
No caso brasileiro que já soma mais de 1 milhão de pessoas infectadas 3,2% ao dia representa mais de 30 mil casos em 24 horas e, para mais de 50 mil mortes acumuladas, 2,2% representa mais de 1 mil mortes em 24 horas. Sob qualquer ótica, o ritmo de avanço da pandemia é preocupante.
A pandemia já dura quase 5 meses no mundo e cerca de 4 meses no Brasil e as pessoas já estão ficando cansadas, o desemprego aumentou muito e a economia apresenta sinais claros de uma depressão de grandes proporções. Está cada vez mais difícil lidar, simultaneamente, com a emergência sanitária e a emergência econômica. A ansiedade aumenta e induz atitudes impensadas nas pessoas e nos atores econômicos e políticos. O pior cenário agora é o desespero e a falta de planejamento, pois todas as atitudes precipitadas podem adiar ainda por mais tempo o desejado controle da pandemia.
Frase do dia 21 de junho de 2020
“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”
Fernando Pessoa (1888-1935) – Poeta português