ODS 1
Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares. Conheça as reportagens do Projeto Colabora guiadas pelo ODS 1.
Veja mais de ODS 1Basta sair de casa, ou de qualquer ambiente fechado, e passar algumas horas ao ar livre em uma área natural que já sentimos na pele como a relação com a natureza, por meio de experiências diretas e significativas, produz um impacto positivo que pode reverberar em cada esfera da sociedade. Uma atitude simples e que corrobora com um enorme corpo de estudos.
Em relação à criança não é diferente: pesquisas mostram o que pais e educadores atestam cada dia mais – as crianças ficam mais fortes, concentradas, criativas e motoramente hábeis quando têm a oportunidade de brincar ao ar livre com frequência.
O cenário da infância mudou: passamos de uma infância caracterizada pela liberdade de movimento, tanto motor quanto espacial, para uma caracterizada pelo confinamento e pela contenção
Esses estudos surgiram em decorrência da contradição que vivemos, pois pela primeira vez na história, a maioria da população mundial mora em cidades, onde o contato com a natureza é cada dia mais escasso devido ao estilo de vida apressado que adotamos e outros fatores como a escassez de áreas verdes e o domínio dos automóveis. No Brasil, esse número chega a 84% (IBGE, 2010). Simultaneamente, nunca passamos tanto tempo em lugares fechados e nossa sociedade mudou seu foco da experiência para a segurança. É sintomático que 47% brasileiros não se sintam seguros na cidade em que moram (IBGE, 2010).
Paralelamente, o cenário da infância mudou: passamos de uma infância caracterizada pela liberdade de movimento, tanto motor quanto espacial, para uma caracterizada pelo confinamento e pela contenção. Um dado dos EUA aponta que as crianças passam 90% do seu tempo em lugares fechados. Outra pesquisa comprova o que os pais e educadores já notaram na prática: a maioria das crianças não brinca ao ar livre. Resultados colhidos em 10 países mostraram que 56% das crianças passa uma hora ou menos brincando ao ar livre. Em todos os países pesquisados, as crianças passam 50% a mais do seu tempo brincando em frente às telas dos eletrônicos do que ao ar livre.
Vivemos tempos de mudanças vertiginosas que apontam para um futuro incerto e por vezes sombrio, um “verdadeiro terremoto que ameaça a condição humana”, como bem definiu Ernesto Sabato em seu livro-balanço ‘A Resistência’. O homem não teve tempo de se adaptar às bruscas e poderosas transformações que sua evolução técnica e social provocaram ao redor, e com isso sofre e causa muito sofrimento.
Na essência das atitudes necessárias para enfrentar o desafio de mudar a direção da história e contribuir com uma vida mais humana para nós e os demais seres que habitam esse planeta está o não conformismo e a esperança de que somos capazes de resgatar a nós mesmos e à casa que compartilhamos.
A criança personifica essa esperança, carregando em si todo um mundo de possibilidades, bondade e vida e hoje sabemos muito mais sobre a importância decisiva da infância do que no passado, já que diversos especialistas e pesquisadores apontam que as experiências e o desenvolvimento da criança em seus primeiros anos de vida ajudam a determinar o adulto que ela será, bem como mostra o recém-lançado documentário ‘O Começo da Vida’, da cineasta Estela Renner.
Entretanto, assim como nossa existência e bem-estar estão ameaçados pelo avanço da degradação ambiental, do medo da violência, da indiferença e da solidão, o cenário da infância também mudou, colocando em risco o desenvolvimento saudável e pleno das crianças.
São diversos e complexos os impactos que o atual sistema de valores causa no bem-estar físico, psicológico, emocional e espiritual das crianças. Um dos impactos mais contemporâneos, que se tornou realmente visível e disseminado nas últimas duas décadas, é o afastamento e a consequente desconexão entre a criança e a natureza.
A falta de contato e de oportunidades de brincar com regularidade e liberdade ao ar livre está na base de muitos problemas enfrentados pelos pequenos atualmente, como o aumento da obesidade infantil e as dificuldades de concentração, equilíbrio a atenção, e há muita pesquisa feita nessa direção.
Com base nessa premissa, o Projeto Criança e Natureza trabalha com o objetivo de garantir que as crianças cresçam e se desenvolvam em contato direto com a natureza.
Os efeitos da natureza têm sido testados particularmente em crianças diagnosticadas com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), tendo em vista o aumento expressivo de diagnósticos observado nos últimos anos. Pesquisadores norte-americanos descobriram que uma simples caminhada de 20 minutos em um parque urbano é capaz de trazer mais concentração a essas crianças do que o mesmo tempo de caminhada pelo centro da cidade. Outra pesquisa relata que os pais de crianças com déficit de atenção foram questionados sobre seu desempenho relativo à concentração após as crianças terem realizado atividades de lazer em diferentes áreas. Os resultados mostraram que as crianças tiverem um desempenho melhor após brincarem em áreas verdes e que quanto mais verde era a área de brincar, menos severos eram os sintomas de déficit de atenção.
É urgente o reconhecimento e o resgate dos valores mais caros à nossa humanidade entre os quais o afeto, a sensibilidade, o encontro, os vínculos, a imaginação e o senso de pertencimento à natureza. Isso é particularmente importante em relação às crianças, que como definiu Raffi Cavoukian, autor do livro Honrar a Criança, são a porta de entrada do ser humano no cenário da vida.
Esse é um desafio que exige ações conjuntas e a colaboração de diversos parceiros: conservacionistas e profissionais de saúde, advogados e educadores, familiares e planejadores urbanos, artistas e jornalistas.
Com base nessa premissa, o Projeto Criança e Natureza trabalha com o objetivo de garantir que as crianças cresçam e se desenvolvam em contato direto com a natureza. Entre nossas ações em 2016 está a realização do I Seminário Criança e Natureza do Brasil, em São Paulo (13/06) e no Rio de Janeiro (15/06), que reunirá especialistas brasileiros e estrangeiros para discutir as barreiras, os benefícios e as estratégias para promover a conexão entre a criança e natureza. Esperamos que esse espaço de encontro e troca nos inspire e motive a trazer mais natureza ao dia a dia das crianças, e de todos nós também. No dia 13 haverá transmissão ao vivo pela internet do evento. O link estará disponível no facebook do projeto.
Criança e Natureza – Brincando com a Natureza na Cidade from Maria Farinha Filmes on Vimeo.
Mãe da Raquel e do Beni, Engenharia Florestal e Mestre em Conservação de Ecossistemas, sempre trabalhou com educação e conservação da natureza. Desde 2015 faz parte da equipe do Projeto Criança e Natureza do Instituto Alana.
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