Mulheres perdem espaço no mundo digital

Fosso entre os gêneros chega a 31% nos países menos desenvolvidos

Por José Eduardo Mendonça | ODS 1ODS 4ODS 5 • Publicada em 20 de agosto de 2018 - 08:23 • Atualizada em 21 de agosto de 2018 - 14:22

Mulheres do Sudão acessam a internet em uma Lan House na cidade de Cartum. Foto Ashraf Shazly/AFP
Mulheres do Sudão acessam a internet em uma Lan House na cidade de Cartum. Foto Ashraf Shazly/AFP
Mulheres do Sudão acessam a internet em uma Lan House na cidade de Cartum. Foto Ashraf Shazly/AFP

O uso global da internet cresceu de maneira notável nos últimos dez anos, de 20.6% em 2007 para cerca de 47.1% em 2016. O aumento mostra uma tendência positiva, mas as mulheres perdem espaço. Sua participação no mundo digital na verdade diminuiu com o tempo, de acordo com a União Global da Telecomunicações – o fosso entre gêneros cresceu de 11% em 2013 para 12% em 2016. O abismo é maior nos países menos desenvolvidos, de 31%. Regionalmente, na África o índice é de 23%, e nas Américas de 2%.

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Não podemos deixar que a desigualdade de gêneros bloqueie o caminho do progresso global

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Parece pior quando traduzimos estes percentuais. Hoje, a diferença de acesso à internet atinge 250 milhões de mulheres (de acordo com a Organização para o Desenvolvimento e Cooperação Econômica – OCDE).  O número é de 200 milhões quando o tema é o telefone celular. Aquelas que têm usam aplicativos menos complexos – sistemas patriarcais de poder podem restringir o acesso delas à tecnologia direta ou indiretamente, através do fosso salarial, trabalho sem pagamento, e o acesso à educação. Na origem do problema reside um outro. O custo é um fator importante, uma vez que para elas a internet é uma carga financeira mais pesada – os salários são mais baixos em todo o mundo. Segundo a World Wide Web Foundation, a educação é um fator determinante na utilização da internet e das ferramentas digitais, o que faz com que mulheres tenham menos possibilidades de treinamento online.

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Também de acordo com a organização “mulheres em todo o mundo são bombardeadas por uma cultura de misoginia online, incluindo discurso agressivo e de ódio com base no sexo, ameaças diretas de violência, e vinganças por conteúdo difamatório publicado na rede”. Não surpreende que mulheres tenham 52% menos probabilidade de expressar opiniões controvertidas nestas mídias.

A educação é um fator determinante na utilização da internet, o que faz com que mulheres tenham menos possibilidades de treinamento online. Foto Didier Bergounhoux / Photononstop

As consequências para a economia global são consideráveis. O PIB global pode perder até $30 trilhões em rendas e produtividade perdidas nos próximos dez anos. Cerca de 132 milhões de meninas no mundo, entre 6 e 17 anos, não frequentam a escola, e menos de dois terços delas em países de baixa renda completam a educação primária. “Não podemos deixar que a desigualdade de gêneros bloqueie o caminho do progresso global”, diz Kristalina Georgieva, principal executiva do Banco Mundial.

É notável que o fosso dos gêneros ocorra onde não se esperava – no setor de tecnologia. Facebook, Google e Apple têm respectivamente 17%, 19% e 23% menos mulheres em seus quadros. Pesquisas como as da The Elephant in the Valley mostram discriminação sistemática. Não mais que um quarto dos empregos em computação e matemática nos Estados Unidos são ocupados por elas. E apenas 26% da força de trabalho em ciência, tecnologia, engenharia e matemática, em países desenvolvidos, é feminina.  E há uma probabilidade 20% menor de que mulheres ocupem cargos de liderança no setor de comunicação móvel.

Desenvolvedores de software ainda formam um clube do Bolinha. Nos últimos 5 anos, quase 90% dos pacotes de software “big data” tiveram homens como autores. Isto preocupa, dada a importância crescente das ferramentas de big data na economia digital.  O fluxo de dinheiro no cenário aponta mais uma vez a desigualdade. Mais de 90% das startups inovadoras que buscam capital de investimento foram fundadas por homens.

Se as empresas do setor digital focarem melhor da criação de produtos e ambientes virtuais onde as mulheres se sintam mais incluídas, elas irão usar mais estes produtos, o que, por sua vez, irá criar efeitos multiplicadores na sociedade. Vale lembrar que todos os programadores do Eniac, o primeiro computador digital, eram mulheres.

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José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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