O valor de cada gota

Democratização do acesso, redução do desperdício e pagamento pelo consumo serão temas de Seminário sobre Crise Hídrica

Por Agostinho Vieira | ODS 6 | [tempo_leitura]
• Publicada em 23 de junho de 2016 - 19:41   • Atualizada em 23 de junho de 2016 - 23:53

O esgoto da Zona Oeste polui a Baía de Sepetiba. A falta de saneamento é um problema que atinge cerca de 2,5 bilhões de pessoas no mundo
O esgoto da Zona Oeste polui a Baía de Sepetiba. A falta de saneamento é um problema que atinge cerca de 2,5 bilhões de pessoas no mundo
O esgoto da Zona Oeste polui a Baía de Sepetiba. A falta de saneamento é um problema que atinge cerca de 2,5 bilhões de pessoas no mundo

“Quando se é obrigado a transportar a própria água, aprende-se o valor de cada gota”. Talvez você já tenha visto esta frase em algum lugar. Ela é famosa, já correu o mundo. Normalmente aparece escrita em espanhol ou inglês. Quase sempre acompanhando a foto de uma mulher negra, com a filha pequena, carregando baldes ou vasos com água. São muitas as leituras que se pode fazer dessa imagem, mas duas me parecem importantes: é verdade que damos muito pouco valor para este bem tão precioso, mas é fato também que, em pleno século XXI, ninguém mais deveria carregar a própria água.

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Cerca de 800 milhões de pessoas, ainda hoje, não têm acesso à água potável nas suas casas. Precisam andar quilômetros em busca de um líquido com cor, odor e qualidade, muitas vezes, duvidosos.

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Infelizmente, não é isso que acontece. Cerca de 800 milhões de pessoas, ainda hoje, não têm acesso à água potável nas suas casas. Precisam andar quilômetros em busca de um líquido com cor, odor e qualidade, muitas vezes, duvidosos. Em parte, porque outras 2,5 bilhões de pessoas não sabem o que é coleta e tratamento de esgoto. Se sabem, nunca viram. E não pense, você que está lendo este texto num smartphone, que isso é coisa de país africano. No Brasil, sete milhões de pessoas não têm banheiro em casa. Mais do que toda população da Cidade Maravilhosa.

Cuando tienes/reproducaoPor outro lado, no mesmo país onde milhões não têm uma descarga para chamar de sua, cerca de 40% da água tratada é perdida ou desperdiçada das mais diferentes maneiras. Logo, quando se fala em água, como faremos no Seminário sobre Crise Hídrica, nesta sexta-feira, no Museu do Amanhã, duas tarefas parecem fundamentais: garantir o acesso universal à água boa, limpa e inodora; e fazer com que todos, não só os que um dia carregaram um balde na cabeça, deem valor a esse produto.

Para o presidente do Conselho Mundial de Água, o brasileiro Benedito Braga, existem alguns caminhos para fazer com que isso aconteça. O primeiro é o compartilhamento. Aliás, esse será o tema do 8° Fórum Mundial, que acontecerá no Brasil, em 2018. Como os rios e as nascentes se recusam a aceitar as arbitrárias divisões entre estados e países, é fundamental encontrar formas de compartilhar os seus benefícios. O acordo entre o Brasil e o Paraguai em torno da hidrelétrica de Itaipu é sempre citado como um exemplo positivo. No outro extremo, está a eterna polêmica pelo controle político e econômico dos rios Tigre e Eufrates que banham a Turquia, a Síria e o Iraque. Sem uma divisão mais justa e humanitárias dos recursos hídricos, será muito difícil alcançar a universalização.

Outro tema espinhoso defendido por Benedito Braga é um pagamento mais justo pelo consumo da água. Muita gente não sabe, mas o valor pago todos os meses na conta de água se refere, basicamente, ao trabalho de captação, tratamento e transporte feito por concessionárias como a Cedae e a Sabesp. O pagamento pelo consumo em si existe no Brasil há 15 aos, mas ele é quase insignificante e feito principalmente por indústrias e alguns setores agrícolas. Nesse período todo, ele nunca superou a cifra de R$ 0,02 (dois centavos) o metro cúbico. Na França, por exemplo, os agricultores pagam 300 vezes mais do que nós pela água que irriga os campos, a indústria paga 14 vezes mais e as empresas de saneamento, três vezes mais. Em contrapartida, os franceses conseguem investir quatro vezes mais em infraestrutura hídrica do que nós.

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Agostinho Vieira

Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Foi repórter de Cidade e de Política, editor, editor-executivo e diretor executivo do jornal O Globo. Também foi diretor do Sistema Globo de Rádio e da Rádio CBN. Ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1994, e dois prêmios da Society of Newspaper Design, em 1998 e 1999. Tem pós-graduação em Gestão de Negócios pelo Insead (Instituto Europeu de Administração de Negócios) e em Gestão Ambiental pela Coppe/UFRJ. É um dos criadores do Projeto #Colabora.

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