Batman na despensa

Entre o filme de terror e uma previsível comédia pastelão

Por Leo Aversa | ArtigoODS 11 • Publicada em 28 de junho de 2016 - 08:00 • Atualizada em 28 de junho de 2016 - 12:04

Um pássaro? Um avião? Não, um morcego entrou pela sala e se instalou na despensa
Um pássaro? Um avião? Não, um morcego entrou pela sala e se instalou na despensa

Pai, mãe e filho no sofá, pipoca e refrigerante, assistindo Harry Potter na TV. Se filmassem ia parecer anúncio da Disney. A família tranquila e feliz na segurança do lar.

De repente, do nada, uma revoada.

Um pássaro? Um avião? Não, um morcego, que entra na sala. Se a expressão “barata voa” lhe diz algo, imaginem a mesma com um rato de asas e sonar. Começa o filme de terror.

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Consulto a Internet, amiga certa das horas incertas. A primeira coisa que descubro é que é crime matar morcegos. Fauna silvestre, crime inafiançável. Cadeia na certa. Provavelmente perpétua.

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Numa presença de espírito invejável, grito

– VIVA O EMPODERAMENTO FEMININO!

E me escondo no banheiro, confiando que os novos tempos façam a minha mulher resolver o problema.

Olho pela fresta da porta e percebo que não tem ninguém na sala. O resto da família confia nos velhos tempos. A consciência culpada, velha inimiga, me expulsa do banheiro.

Volto à sala para encarar o meu destino trágico: lutar com o invasor. Como se mata um morcego? Um jornal enrolado dá cabo de uma barata voadora mas e um morcego? Um taco de baseball? Um fuzil? Lança-chamas?

Consulto a Internet, amiga certa das horas incertas. A primeira coisa que descubro é que é crime matar morcegos. Fauna silvestre, crime inafiançável. Cadeia na certa. Provavelmente perpétua. No Brasil só quem atrasa pensão ou mata animal selvagem vai para o xilindró.

O inimigo, além do radar, tem bons advogados.

Penso em dar uma de PM carioca: matá-lo com um porrete, deixar a arma do crime debaixo da asa dele e alegar legítima defesa. Ou então dizer que se tratou de um porrete perdido, que entrou misteriosamente pela janela e acertou o coitado do morcego.

Melhor agir na lei. Tenho que enxotá-lo de casa. Por um milagre o próprio decide voar até a cozinha, então fecho a porta e declaro retomada a sala. A pequena vitória é comemorada com reservas pelo resto da família. A conquista da cozinha vai exigir mais planejamento. Lembrando de todos os filmes de vampiros a que assisti, que não foram poucos, concluo que nada assusta mais os malditos do que luz solar, água benta e estacas. Não tenho os dois últimos e é de noite, então acendo todas as luzes pra ver se engano o pequeno terrorista. Nada. O desgraçado deve estar na despensa, o refúgio noturno dos covardes.

Será uma longa noite.

Se o morcego tem asas e radar eu tenho, ao menos na teoria, mais inteligência. Então penso em algum truque para expulsar o invasor. Me ocorre a ideia brilhante de colocar uma fruta como isca na janela. Como não pensei nisso antes! O bicho vai sentir o cheiro, sair da despensa e quando se der conta já está fora de casa. Bingo!

Corto alguns pedaços de banana, coloco na janela e fico só esperando. Em pouco tempo ouço uma revoada na despensa. Ele vai sair.

Sou um gênio!

Já estou preparando a comemoração quando vejo que, ao invés de tirar o que está dentro, os pedaços de banana atraem um outro morcego, de fora, que come um pedaço e parte pra dentro da cozinha.

Consegui duplicar o problema. O que começou como filme de terror agora é, mais uma vez, comédia pastelão.

Humildemente interfono para o porteiro, que resolve a questão em minutos, capturando os dois com uma toalha.

Volto a assistir a Harry Potter na TV com a família. É claro que a minha performance vira motivo de chacota.

Se tivessem filmado ia parecer humorístico do SBT.

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Leo Aversa

Leo Aversa fotografa profissionalmente desde 1988, tendo ganho alguns prêmios e perdido vários outros. É formado em jornalismo pela ECO/UFRJ mas não faz ideia de onde guardou o diploma. Sua especialidade em fotografia é o retrato, onde pode exercer seu particular talento como domador de leões e encantador de serpentes, mas também gosta de fotografar viagens, especialmente lugares exóticos e perigosos como Somália, Coreia do Norte e Beto Carrero World. É tricolor, hipocondríaco e pai do Martín.

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